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domingo, 11 de março de 2018

O anel de brilhantes Uma história curta de ganho, perda e reconciliação.


  1. Fui acordada no meu quarto ensolarado pelo sorriso charmoso e olhos cheios de amor do meu pai. Meus 18 anos.

    Nas mãos ele trazia uma caixinha preta com um anel de brilhante, uma pedrinha linda, engastada em platina. Abraço, beijo, desejos de felicidade! Não conseguia tirar os olhos do meu anel.

    Meu pai amava jóias, comprava para minha mãe, dava de coração. Eu namorava aqueles brincos, colares, anéis, broches, brincava com eles longe da dona!

    É claro que o velho Édipo estava lá no quarto com a gente quando ele me deu o anel.

    Esse presente andou comigo pela minha vida: no meu noivado, casamento, no nascimento das minhas filhas, em festas, lavando louça, em brigas, acampamentos, momentos de amor…

    Uma vez o encontrei no chão, brilhando solitário entre os pés da mesa de jantar. Minhas meninas também gostavam de brincar com as coisas da mamãe!

    Numa formatura, consegui convencer minha filha arredia a brincos, enfeites e maquiagem a usar meu anel de brilhante. Afinal, ela havia concordado com o vestido elegante, saltinho, ia com o namorado… talvez o anel?

    Muito contra vontade o usou no baile e ele foi perdido. Com medo de cair do dedo guardou no bolso do paletó do namorado que na hora da dança mais animada o tirou e pendurou nas costas da cadeira no enorme salão.

    Hoje posso imaginar a aflição dela na hora de me contar. Naquele dia só fiquei louca. Fui até o salão de madrugada, procurei no lixo, os garçons me ajudando a revirar tudo, a olhar embaixo de cadeiras e mesas, meu marido tentando  conter minha ânsia de chorar e gritar.

    Voltamos pra casa, a formatura estragada. Me consolei desejando que ao menos alguém o achasse e fosse feliz com ele, feliz como fiquei quando o ganhei, feliz pelos anos em que o tive comigo.

    Já se passaram 12 anos.

    Hoje num estalo constatei que embora ele tenha sido perdido, a lembrança daquele dia cheio de sol, daquele sorriso, daquele amor, ainda brilha dentro de mim. Como todo objeto, ele era a representação física de um sentimento, sentimento que não se perde, emoção duradoura, o amor de meu pai que ainda está comigo, que também me fez o que eu sou. Nunca foi e nem pode perdido.

    Também lembrei que meu pai morreu naquele ano, o ano do anel, mas ele ainda está aqui, dentro de mim, para sempre. Nunca foi e nem pode ser esquecido.

    Espero que apesar de todas as mancadas que dei na vida, meu amor possa estar para sempre na lembrança e no coração das minhas filhas. Uma herança de reconciliação que não possa ser perdida.

2 comentários:

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